sexta-feira, outubro 16, 2009

SEM AR

Hj fazem 46 dias desde que estou afastado de meu trabalho para tratamento médico. Com certeza o que mais sinto falta é de operar, de exercer minhas atividades como residente de cirurgia; cuidar dos pacientes cirúrgicos, atender as urgências durantes os plantões, discutir os casos mais difíceis com os colegas e professores. Como se diz, só percebemos como o ar é importante quando ficamos sem ele.

Assim que soube da necessidade de afastamento das atividades no hospital, eu, que costume ver as coisas pelo lado positivo (que bom!) pensei em tudo que eu poderia fazer neste tempo “livre”. Tenho lido mais meus livros, e também artigos na internet. Estou começando uma pesquisa bastante interessante junto com um professor da época de faculdade, e também com meu pai. Participo semanalmente da reunião de casos da residência de Cirurgia Geral do Hospital São José, onde eu mesmo fiz residência. Além disso, estou lendo livros que estavam acumulados em meu armário – mais de dez! – entre ficção, história, filosofia, etc... Voltei a fazer aulas de piano e em breve de guitarra também, além de formar uma banda de hard rock com alguns amigos. Jogo vídeo game, vejo televisão ou filmes, navego na internet, e por aí vai... Desde o ano passado me interessei muito por alguns esportes característicos da América do Norte, baseball e o futebol americano. Sempre assisto os jogos pela televisão ou pela internet.

Mesmo assim, tudo isso são apenas distrações... nada substitui o prazer do trabalho diário, muitas vezes bastante desgastante, como residente de cirurgia. Se perguntarmos a qualquer pessoa, a grande maioria aceitaria de muito bom grado umas férias prolongadas, para ficar em casa, aproveitar os amigos e a família, exercer seus hobbies. Mas o bom mesmo é estar “na ativa”, correr contra o relógio, resolver os desafios diários que cada profissão nos proporciona, de diferentes maneiras. A verdade é que tenho que achar várias coisas diferentes para me distrair, para que estes meses antes da minha volta ao bisturi passem rápido.

Felizmente, a companhia da família, de minha namorada, dos amigos (todos estes que nos perdem um pouco para a Medicina), torna tudo mais fácil. Para terminar, um exemplo do que significa ser médico. Na ocasião de minha formatura, um professor da residência em cirurgia presenteou-me com um livro e, como de costume um cartão. Porém, o cartão não era um cartão de “parabéns pela sua formatura”, como tantos outros. Era um cartão de casamento; a questão é que eu não estava noivando naquela noite, nem estou ainda. Era para comemorar a minha união com a Medicina. Pois ela é assim: uma companheira que nos exige não 100, mas 115, 150% de dedicação; e se não bastasse, isto deve ser feito com verdadeira paixão; ela também exige sacrifícios de nossas famílias e companheiras, que muitas vezes ficam em segundo plano por causa dos plantões ou mesmo de imprevistos com aqueles pacientes que exigem mais atenção. Porém, a gratificação que nos é oferecia é única, especial. Provavelmente o que chamamos de “dádiva”.